Por Raquel Rolnik e Marina Harkot*
Ter o plano aprovado, e implementado, é melhor do que iniciativas erráticas de governos e empresas em torno da circulação de bicicletas na cidade.
Quem anda por São Paulo tem notado o desaparecimento das rotas para circulação de bicicletas. Em primeiro lugar, como já sabemos, o Banco Bradesco decidiu não patrocinar mais a ciclofaixa de lazer que mantinha aos domingos há 10 anos e que, com uma extensão de 120 km, atendia a 100 mil pessoas. Porque funcionava apenas aos domingos e feriados, sua extinção não chega a interferir muito na mobilidade dos paulistanos pela cidade, mas ela era um importante vetor, no sentido de familiarizar o uso da bicicleta na cena urbana. E muitas vezes era essa familiaridade que levava os usuários da faixa de lazer a considerar o uso da bicicleta durante dias úteis, em complementação ao sistema público de transporte.
Mas não foi só o fim da ciclofaixa que surpreendeu os ciclistas. Sumiram também, e sem aviso prévio, várias ciclovias que, diferente das ciclofaixas, têm um lugar permanente, junto ao calçamento, para circulação de ciclistas. A Prefeitura alega que as ciclovias que foram suprimidas na verdade serão reformadas para receber um novo tratamento. Além disso vai ser alterado o seu padrão de sinalização. Porém, além da falta de comunicação prévia, a extinção de ciclovias sem que imediatamente outras infraestruturas – tais como cones delimitando o espaço reservado para bicicletas – fossem colocadas, garantindo assim a segurança de circulação no local, contraria o próprio Código Brasileiro de Trânsito, que determina que uma via não pode ser reaberta à circulação sem que esta esteja completamente adequada para uso. E, pelo que foi possível identificar através dos relatos postados nas redes sociais, apenas em uma das via, no bairro de Pinheiros, tais sinalização e proteção foram colocadas.
O que estamos percebendo é que, apesar do compromisso da atual gestão de ampliar as ciclovias, atualmente com 503 quilômetros de extensão, concretamente estamos no negativo, porque algumas desapareceram e ainda não foram refeitas. E há outras, ainda ativas, mas em estado lamentável de manutenção – como é o caso da ciclovia que fica no canteiro central da avenida Paulista. Mesmo localizada em uma das melhores estruturas da cidade, está repleta de degraus entre as placas de concreto que a formam.
A cidade de São Paulo, sob o comando de Bruno Covas, está, desde o segundo semestre de 2018, revisando o Plano Cicloviário. Ele é resultado de oficinas técnicas e de 10 audiências públicas realizadas nas regiões central, norte, sul, leste e oeste da capital, um processo de planejamento e discussão pública. As atividades se encerraram em julho, mas o documento final ainda não foi apresentado e submetido à Câmara Municipal.
Este documento prevê a construção de mais 173 quilômetros de ciclovias e a requalificação de outros 310 quilômetros, mas não menciona a extinção de nenhuma ciclovia. Ter um Plano Cicloviário aprovado – e implementado – é melhor do que iniciativas erráticas de empresas que desejam apoiar ou interromper intervenções de apoio ao uso de bicicletas, ou guerras politico-jurídicas em relação à implementação deste modal na cidade.
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