No dia 29 de janeiro de 2004, foi organizado, em Brasília, um ato nacional para o lançamento da campanha “Travesti e Respeito”. O ato foi um marco na história do movimento contra a transfobia e na luta por direitos e a data foi escolhida como o Dia Nacional da Visibilidade Trans.
Se as eleições de 2020 ficaram marcadas pelo recorde de candidaturas de pessoas trans, este não foi um fenômeno ao acaso, ao contrário, reflete o processo histórico e coletivo de ocupação de espaços e de luta por direitos – inclusive, do direito de não serem resumidas por sua identidade de gênero.
Em julho de 2020, a então pré-candidata a prefeita de Fortaleza Helena Vieira postou em seu Facebook sobre um tweet irônico que tinha lido: “Fortaleza tem pré-candidata travesti a Prefeita, voto sem pestanejar, mas qual o projeto? Introdução à Teoria Queer?”. Em sua postagem, a escritora e pesquisadora destacou seu extenso currículo e denunciou: “Esse infeliz comentário é puro identitarismo, afinal o autor olhou pra mim e só conseguiu enxergar a própria obsessão reducionista”.
Para celebrar e reafirmar a importância da luta pela garantia dos direitos de pessoas trans, reunimos algumas pessoas que atuam em diferentes frentes e áreas do conhecimento, mostrando que, a despeito de toda a violência que ainda ameaça a vida de travestis e transexuais no Brasil e de todo o reducionismo que enfrentam, elas e eles são muites, são diverses, potentes e criatives, seja na música, na performance, no cinema, no parlamento, na escola e em todos os outros espaços que elas e eles estão trabalhando, produzindo, ensinando, aprendendo e construindo outros mundos possíveis.
Aqui, trouxemos algumas pessoas que estão vivendo e atuando a partir de São Paulo. Essa não é, de nenhuma forma, uma lista exaustiva, ao contrário, é apenas uma amostra da potência que, a cada dia, ganha mais força e espaço nas cidades de todos o país. Enquanto o direito à cidade não for constituído, também, pelo direito à liberdade de gênero, ele nunca será efetivo e para todas, todos e todes.
Aí vai a nossa (pequena) lista:
Alexya Salvador: professora do ensino fundamental e reverenda. Trouxe o debate de gênero para dentro das salas de aula, dos cultos e também da política, na eleição de 2020, foi candidata à vice-prefeita na chapa de Sâmia Bonfim.
Alex Rodrigues (Pletu): poeta e produtor cultural
Amara Moira: travesti putafeminista, escritora, doutora em teoria literária pela Unicamp, colunista da Mídia Ninja e autora do livro #ESeEuFossePuta.
Carol Iara: co-vereadora da Bancada Feminista, é a primeira parlamentar intersexo do Brasil.
Daniel Veiga: dramaturgo, roteirista, professor na SP Escola de Teatro e co-fundador do Coletivo de Artistas Transmasculines.
Erica Malunguinho: educadora, artista plástica, mestra em estética e história da arte pela USP e, atualmente, deputada estadual em São Paulo. Foi a fundadora do Aparelha Luzia, centro cultural e quilombo urbano sediado no centro da capital paulista. –
Erika Hilton: vereadora mais votada para a Câmara Municipal de São Paulo, em 2020.
Jup do Bairro: cantora, compositora, performer e apresentadora. Em 2020 lançou o disco “Corpo sem Juízo”, com o qual foi premiada como “Artista Revelação” no Prêmio Multishow de Música Brasileira. Apresenta o talk show TransMissão, no Canal Brasil, ao lado de Linn da Quebrada.
Laerte Coutinho: cartunista e chargista. Em 2017, o documentário Laerte-se retratou um pouco da vida e obra dessa grande artista brasileira.
Leo Moreira Sá: ator, dramaturgo e designer de iluminação. É um dos idealizadores do CATS – Coletivo de Artistas Transmasculines.
Linn da Quebrada: atriz, cantora e compositora. Lançou o disco “Pajubá”, em 2017 e filmou o documentário Bixa Travesty, em 2018, premiado no Berlinale, em Berlim. Apresenta o Talk Show TransMissão, ao lado de Jup do Bairro, e integrou o elenco da série “Segunda Chance”, da Globo.
Magô Tonhon: arquiteta, mestra em filosofia pela USP, maquiadora e educadora de beleza.
Marcia Rocha: advogada, integra a Comissão Especial da Diversidade Sexual da OAB/SP. Marcia Rocha é uma das fundadoras da organização Transempregos, um banco de dados online de currículos e vagas para pessoas trans em todo o país.
Maria Clara Araújo: pedagoga e assessora parlamentar. Instagram.
Matheus Vidal: publicitário, idealizador do Projeto Todes, um evento que, a cada edição, traz um tema e convidades com o objetivo de “democratizar as ideias e informações acerca do público e da comunidade trans”.
Neon Cunha: publicitária e artista plástica.
Raquel Virginia: cantora, compositora e uma das fundadoras da banda As Bahias e a Cozinha Mineira.
Renata Carvalho: atriz, diretora, dramaturga e transpóloga (uma antropóloga trans). Renata é fundadora do Monart – Movimento Nacional de Artistas Trans e do “Manifesto Representatividade Trans”, buscando a inclusão de corpos travestis e trans nos espaços de arte, indo contra o “trans fake”, quando artistas cisgêneros interpretam travestis e transexuais. https://www.instagram.com/coletivot/
Rosa Caldeira: cineasta, dirigiu o filme “Perifericu”, eleito melhor curta-metragem no Festival de Cinema de Tiradentes, em 2020, entre outras produções.
Samara Sosthenes: moradora da ocupação Prestes Maia, no centro de São Paulo, Samara luta pelo direito à moradia. É coordenadora da UNEafro Brasil e voluntária na Pastoral do Povo de Rua. Atualmente é co-vereadora no mandato Quilombo Periférico (PSOL).
Além de acompanhar estas lutas, é importante apoiar seus projetos. O Brasil é o país que mais mata, ameaça e exclui pessoas trans no mundo! Inclusive nesta semana em que é reafirmada a importância da luta por direitos para as pessoas trans e travestis, a co-vereadora Carol Iara sofreu um atentado no dia 27 de janeiro. Dois tiros foram disparados para dentro de sua casa. Carol não se feriu e está em segurança. O LabCidade se junta à Carol Iara e à todas, todos e todes que estão cobrando que o atentado seja devidamente investigado e a vida de Carol assegurada.
Mas esta ameaça à Carol não é um caso isolado. Com a pandemia e seus impactos sobre as condições de vida, parte dessa população ficou ainda mais vulnerável e marginalizada. Por isso, sugerimos algumas ações e projetos de apoio a comunidade trans em São Paulo que você pode apoiar:
@casachama_org – associação cultural de cuidados LGBTQIAP+ plural e fluida, que surgiu da necessidade de criar mais espaços de pesquisa, discussão e ação.
@arouchianos – casa de acolhimento LGBTQIAPD+ na região do Largo do Arouche.
@casaneoncunha – projeto de apoio a pessoas LGBTQIA+ em São Bernardo do Campo (SP). Atua como casa de acolhimento e clínica social.
@casaflorescer_ – casa de acolhida para mulheres travestis e transsexuais.
@projeto.seforas – ação de inclusão religiosa e social de pessoas trans e travestis em situação de extrema vulnerabilidade social
@empoderatrans – rede de empreendedorismo para pessoas trans do Brasil.
Estes são apenas alguns dentre os muitos coletivos e projetos para e com pessoas trans em São Paulo, procure conhecer e apoiar também aqueles atuantes em sua cidade, bairro ou região.
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