Criada em 1990, assessoria técnica completa um quarto de século e busca financiamento coletivo para realizar documentário sobre projetos e processos desenvolvidos junto a movimentos sociais de moradia.
Por USINA
Na década de 1960, com o Brasil ainda sob o peso da ditadura, a única política pública de habitação para populações de baixa renda disponível era a do Banco Nacional de Habitação (BNH), de qualidade discutível tanto pela precariedade dos projetos habitacionais e materiais utilizados, quanto pela localização das habitações, via de regra periférica, longe de qualquer estrutura básica de cidade – transporte, trabalho, equipamentos públicos, de lazer etc. Muito mais do que uma política destinada a sanar o déficit habitacional, tratava-se de uma política de pacificação da insatisfação popular perante os abusos cometidos pelo governo ditatorial.
Inspiradas no exemplo uruguaio, principalmente das experiências da FUCVAM, nos anos 1980 surgem as assessorias técnicas, formadas por arquitetos, engenheiros, sociólogos, educadores e trabalhadores sociais, que buscavam não apenas a viabilização técnica de moradia popular, mas também a produção dessa moradia com qualidade construtiva e inserida em territórios com infraestrutura urbana. A autogestão por mutirão tem sido um processo que permite a construção de unidades habitacionais maiores com aporte de trabalho mutirante e serve como instrumento de politização.
Em 1990, na cidade de São Paulo, foi criada a Usina – Centro de Trabalhos para o Ambiente Habitado, associação civil sem fins lucrativos formada por associados e associadas que tiveram e têm a marca da militância profissional e política. Como assessoria técnica, a USINA já participou da concepção e execução de mais de 5 mil unidades habitacionais, além de centros comunitários, escolas e creches em diversas cidades e em assentamentos rurais, principalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Também atuou no desenvolvimento de planos urbanísticos, projetos de urbanização de favelas e auxiliou a formação e organização de cooperativas de trabalho.
Em 2015, a Usina completou 25 anos de atuação. Com o objetivo de preservar e ativar a memória dos principais processos desenvolvidos nesse período, a atual equipe da assessoria deu início ao Projeto Usina 25 – Arquitetura como prática política. Nesse contexto, a jornalista Sabrina Duran – responsável pelo projeto de investigação jornalística Arquitetura da Gentrificação – e a diretora de arte Gabriela Nunes foram convidadas a iniciar um processo de pesquisa para a criação de um documentário baseado no material de arquivo da assessoria e em entrevistas com técnicos, lideranças de movimentos sociais e mutirantes envolvidos nos principais processos desenvolvidos pela Usina.
Tendo como fio condutor a trajetória da assessoria, este documentário visa situar a relevância histórica dos processos de construção autogestionária do habitat por movimentos populares em aliança com arquitetos nos processos de educação popular e na organização do trabalho no canteiro de obras.
A equipe envolvida na produção do documentário planeja abordar algumas das experiências mais significativas desenvolvidas pelos profissionais que passaram pela Usina, a exemplo do COPROMO, do Mutirão União da Juta e do Mutirão Paulo Freire – construídos em São Paulo (SP) –, do projeto da Cidade da Reforma Agrária – feito a convite do MST para o Assentamento Ireno Alves dos Santos, em Rio Bonito do Iguaçu (PR) –, e do projeto de Reassentamento da Comunidade do Piquiá de Baixo, em Açailândia (MA). Serão realizadas mais de 60 entrevistas com os agentes envolvidos nos processos em pelo menos 8 cidades brasileiras.
O projeto será viabilizado por meio de financiamento coletivo. Para saber mais e contribuir, acesse: catarse.me/usina25. O prazo para contribuir vai até este domingo, 11/10.
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[…] (São Paulo). 25 anos da Usina: arquitetura como prática política. 2015. Disponível em: <https://observasp.wordpress.com/2015/10/09/25-anos-da-usina-arquitetura-como-pratica-politica/>. Acesso em: 23 fev. […]