Rivaldo Gomes / Folhapress.

A sexta edição do podcast “Pela Cidade” discutiu a ciclomobilidade em São Paulo e trouxe, como convidada, Letícia Lemos. Mestre e doutoranda pela FAU-USP, Letícia trabalhou na coordenação de diversos planos e projetos urbanos e exerce pesquisa em mobilidade sustentável, mobilidade ativa, regulação urbanística, políticas públicas urbanas que influem sobre a mobilidade ativa e desenho urbano, e a incidência da sociedade civil organizada nas políticas de mobilidade urbana ativa.

A conversa começou a partir da importância de junho de 2013 para a mobilidade urbana de São Paulo e da ideia, comumente falada, da falta de planejamento das prefeituras anteriores a esse período. Letícia afirmou que não é bem assim: “tem planejamento cicloviário desde 1980 dentro da CET, o que faltava mesmo era implementar. Não dá para negar que houve muitos erros no que foi implantado pela gestão Haddad, mas o que saiu errado não foi por falta de planejar, mas por falta de condições políticas internas da CET, resistências e entraves de uma estrutura que foi montada e afinada desde 1976 para cuidar de circulação de carro. Ou seja, são quase quatro décadas pensando para o carro até chegar uma gestão e falar para pensar em ônibus e bicicleta. Não é fácil abrir espaço para a bicicleta em uma cidade que há décadas é construída e reconstruída para circulação de carro.”

Letícia continuou a conversa respondendo à hipótese de que as ciclovias foram uma forma barata de implementar uma agenda de classe média, apoiada pela mídia. Para ela, “as ciclofaixas foram sim uma forma barata financeiramente para conseguir implementar essa política, mas não foram “baratas” politicamente. Pela primeira vez na história da política cicloviária de São Paulo o espaço de circulação foi trazido para a disputa. Já o cicloativismo, segundo a pesquisadora, “vem de um movimento de atores da classe média e os atores que estavam mais proeminentes eram de classe média, mas eu não chamaria de uma agenda de classe média: há pressão de ciclistas periféricos políticas cicloviárias, do qual um exemplo importante é a campanha Ciclovia na Periferia que demandava 100km para territórios periféricos.”

Outro assunto debatido foi o da relação dos comerciantes com as ciclovias e ciclofaixas criadas nos últimos anos em São Paulo. A partir de pesquisas realizadas na região central e no Jardim Helena, Letícia apontou algumas diferenças nas duas regiões: no centro, os comerciantes viam as ciclofaixas que foram implantadas como ruins ou achavam que não houve impacto. Já os entregadores foram unânimes em apontar melhora no trabalho deles por terem espaço para circular. Já no Jardim Helena, os comerciantes não enfrentam os mesmos problemas daqueles no centro, como dificuldade para os clientes estacionarem os carros para acessar o comércio, mas, mesmo assim, reproduziam o mesmo ponto de vista negativo em relação ao espaço para bicicletas.

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PELA CIDADE #6: Ciclomobilidade em São Paulo
Apresentação e mediação: Leonardo Foletto, LabCidade
Entrevistada: Letícia Lemos
Trilha de abertura: Bruno Bonaventure
Gravação, Edição e Produção: Leonardo Foletto, LabCidade
Apoio: Marina Harkot e Paula Santoro, LabCidade