No início de 2020, logo com a emergência da pandemia no Brasil, criamos o “Especial Coronavírus”, um espaço dentro da página do LabCidade dedicado a acompanhar e refletir sobre os efeitos sociais e urbanos da pandemia no país. Na mesma velocidade em que o vírus se espalhava e as consequências sociais e econômicas da pandemia eram sentidas, uma série de ações e iniciativas foi ganhando forma em diversos territórios de São Paulo — e do Brasil — como meio de autoproteção e cuidado comunitários. Em sintonia com isso, uma das seções do Especial Coronavírus buscou reunir, organizar e divulgar as ações que chegavam até nós por redes parceiras, como um modo de fortalecer o que estava sendo feito e produzido por nossos/as parceiros/as nos movimentos de moradia e em suas ocupações; nos coletivos artísticos, culturais e de comunicação (sobretudo, os periféricos); pelos cursinhos populares e setores do movimento negro; por laboratórios de pesquisa e universitários; pelas redes e coalizões de defesa dos direitos humanos, contra a violência estatal/policial, também por grupos abolicionistas e outros movimentos sociais.

O trabalho de atualização da seção “Campanhas e ações dos territórios” nos permitiu acompanhar, ao menos em parte, a grande quantidade e diversidade de ações que foram sendo realizadas. As atualizações da página eram feitas semanalmente, no começo, com o grande volume de iniciativas, chegamos a fazer três atualizações por semana, refletindo a intensidade das iniciativas que se desenvolviam nos territórios. Do começo de abril a setembro de 2020, compilamos 110 iniciativas. As ações listadas com maior destaque eram as de campanhas de doações e vaquinhas para distribuição de alimentos e itens de higiene, respondendo ao contexto de emergência criado com a suspensão de atividades econômicas sem uma contrapartida pública de garantia da manutenção das condições de vida das pessoas que se viram impedidas de trabalhar. Mas essas não eram as únicas ações. Como forma de sistematizá-las, dividimos em cinco tipos de iniciativas:

i. campanhas de doações de parceiros/as;
ii.cartas, manifestos, campanhas e articulações com propostas e medidas emergenciais;
iii. dispositivos e materiais informativos produzidos por coletivos;
iv. chamamentos, convocações, editais e pesquisas e;
v. plataformas de mapeamento de iniciativas, de casos de contaminação e de denúncias.

Nossa última atualização foi em setembro de 2020. Naquele momento, o ritmo de novas ações caiu, assim como caíram as doações. As razões podem ser diversas e difíceis de serem identificadas com precisão, mas fosse por certo cansaço, desgaste e falta de recursos para manter uma frequência constante de doações ao longo dos meses; fosse por uma saturação com a pandemia no geral e, em alguma medida, a aceitação de uma nova fase, que coincidia com o início de reaberturas dos comércios e serviços e o relaxamento das medidas e protocolos gerais; fosse ainda pelo início do pagamento do auxílio emergencial pelo governo federal – graças a pressão e mobilização social e da oposição no parlamento — o fato é que as iniciativas e campanhas, sobretudo as de doações, se arrefeceram.

Isso não significou, porém, o fim das articulações: o que vimos foi o fortalecimento de outras frentes de resistência, como, por exemplo, das ações contra as remoções que se intensificaram durante a pandemia e articulações para tentar impedi-las, no âmbito local, regional e nacionalmente, com o caso da campanha #DespejoZero, para citar alguns exemplos que acompanhamos.

E, assim, encerramos o ano com expectativas de uma saída gradativa da pandemia. Porém, 2021 começou com o prolongamento e aprofundamento da crise em suas diferentes naturezas (sanitária, econômica, política, social…). A queda das doações junto da interrupção do pagamento do auxílio emergencial na virada do ano, somada ao aumento dos casos de contaminação e morte pelo vírus junto ao colapso do sistema de saúde, com alguns lugares promovendo novas restrições e lockdown, levaram o país a uma situação de emergência ainda mais grave. Ultrapassando os 300 mil mortos (sem contar a subnotificação), estamos testemunhando a fome voltar a assolar o Brasil em grande escala. O que se intensificou em 2020, explode em 2021.

Diante da profunda crise econômica, política e social que assola o país e impõe ainda mais restrições às condições de vida de grande parte de sua população, as mobilizações, as ações e a rearticulação para divulgação retomam com força para tentar minimizar os impactos do desemprego e da fome da população brasileira.

Nesse sentido, ao invés de simplesmente voltar a atualizar nossa lista, “parada” desde setembro de 2020, optamos por escrever esse breve balanço sobre o trabalho realizado pelo LabCidade de divulgação das ações e campanhas realizadas em  2020 como um modo de chamar a atenção para a nova situação que estamos vivendo, dando destaque para campanhas – algumas novas, outras que continuam sem nunca terem sido interrompidas – que estão acontecendo agora e que precisam de apoio:

“Se tem gente com fome, dá de comer!”. Campanha nacional realizada pela Coalizão Negra por Direitos, com apoio da Anistia Internacional, Oxfam Brasil, Redes da Maré, Ação Brasileira de Combate às Desigualdades, @342artes, Nossas e Instituto Ethos. A campanha está arrecadando doações para distribuir alimentos para 222.895 famílias em situação de vulnerabilidade social por todo o país, mapeadas pela campanha. A distribuição será feita por meio dos pontos físicos onde estão as organizações que compõem a Coalizão Negra por todo o Brasil. Para apoiar a campanha: https://www.temgentecomfome.com.br/#block-36194.

– A campanha de “Apoio permanente para famílias negras e periféricas no enfrentamento ao genocídio pelo covid-19” organizada pela Uneafro Brasil, a Amparar (Associação de familiares e amigos de presos/as), Batalha do Paraisópolis, Comunidade Evangélica Voz que Clama no Deserto (Heliópolis, São Paulo), o MSTC (Movimento de Sem-Teto do Centro), ONG Herdeiros Humanísticos e Rede Ubuntu segue de forma ininterrupta desde março de 2020 até o presente momento, tendo já distribuído mais de 120 toneladas de alimento. Para contribuir com a campanha: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/campanha-de-solidariedade-em-tempos-de-coronavirus

“Sem casa e com fome” é a campanha de arrecadação e distribuição de cestas básicas da União dos Movimentos de Moradia de São Paulo (UMM-SP), com atuação há mais de 30 anos nas periferias da cidade. Em 2020, a UMM distribuiu mais de 100 mil cestas básicas e kits de limpeza. Para saber mais e apoiar a campanha: https://benfeitoria.com/periferia-enfrenta-a-pandemia-ano-2-nw2?ref=benfeitoria-pesquisa-projetos.

– O Teatro de Contêiner Mugunzá e o coletivo de mulheres “Tem Sentimento” estão organizando uma campanha de doações de alimentos e kits de higiene para a população em situação de rua e grupos vulneráveis na região conhecida como “cracolândia” e entorno. Para contribuir com a ação, os dados estão disponíveis aqui.

‘Periferia em Movimento’ e ‘Nós, mulheres da Periferia’ atualizam uma listagem de vaquinhas e campanhas sendo realizadas nas periferias de São Paulo e do Brasil Até agora, já são 29 iniciativas identificadas. Para conferir a listagem e apoiar as campanhas: http://periferiaemmovimento.com.br/semfome/.

– “Cozinhas Solidárias”: campanha organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que pretende instalar, até o final de abril, 16 Cozinhas Solidárias, espalhadas por 10 estados brasileiros, até o final de abril. O objetivo é distribuir, ao menos, uma refeição gratuitamente à comunidade onde as cozinhas estarão instaladas, incluindo finais de semana e feriados. Além disso, o projeto prevê o cultivo de hortas urbanas junto às Cozinhas, que fornecerão os alimentos para as refeições. Para apoiar a campanha: https://mtst.org/mtst/as-cozinhas-solidarias-do-mtst-refeicoes-gratuitas-e-afeto-nas-periferias-do-brasil/.

_ O GAC, situado no Grajaú, pede ajuda para arrecadar 3000 cestas básicas para distribuir para famílias que estão em situação crítica na pandemia. Você pode doar o valor que quiser (uma cesta custa R$65) via PIX, pelo número: 26674554000168.