Plenária da Comissão Interamericana de Direitos Humanos com movimentos sociais e sociedade civil. Foto: Francisco Proner/FARPA/CIDH

Por Raquel Rolnik, originalmente no UOL.

Na manhã desta segunda-feira (12), a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA (Organização dos Estados Americanos) realizou uma coletiva de imprensa para divulgar os resultados preliminares de sua visita ao Brasil, iniciada na última semana, cujo objetivo foi observar, difundir e defender os direitos humanos.

Na quarta-feira passada (7), a vice-presidente da Comissão, Esmeralda Arosemena, esteve em São Paulo examinando questões relacionadas ao direito à moradia em duas visitas: na Cracolândia, centro da cidade, e na Vila Nova Palestina, uma das maiores ocupações do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) da capital paulista, localizada na zona sul, região do Jardim Ângela.

Na Cracolândia a visita tratou sobretudo das formas de atendimento e relacionamento com os dependentes químicos e moradores de rua, mas os comissários da OEA também ouviram os relatos sobre remoções forçadas e perdas habitacionais. Na Vila Nova Palestina, estiveram presentes não apenas os membros do MTST, mas também de vários outros grupos e movimentos que lutam por moradia e se encontram em situação de emergência habitacional.

A CIDH tratou ainda de temas e visitou áreas particularmente sensíveis na na atual conjuntura, como aldeias indígenas, quilombos, ocupações de moradia e assentamentos também do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ameaçadas por um discurso de criminalização e não reconhecimento de direitos.

Um órgão consultivo, a CIDH é composta por sete membros independentes escolhidos pela Assembleia Geral da OEA. Com base na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, realiza visitas aos países-membros, que acontecem regularmente, sempre a partir do convite dos governos. A visita ao Brasil já estava programada há vários meses, mas foi adiada para depois das eleições, para não ser contaminada e interferir na disputa eleitoral.

No caso brasileiro, entretanto, a vitória de Jair Bolsonaro redobra as atenções, na medida em que houve, por parte do então candidato, ao longo de toda a campanha, um ataque sistemático aos direitos humanos e seus defensores. Portanto um posicionamento da CIDH nesse momento ressoa no mundo inteiro o alerta em relação a possíveis retrocessos no campo dos direitos humanos no país.

No campo das relações internacionais, quando as violações de direitos humanos são sistematicamente denuncias pelos órgãos de monitoramento, além de constrangimentos diplomáticos, podem acontecer impactos no âmbito das relações econômicas. Isso porque não há separação entre a diplomacia, em sua prática de cooperação cultural e política, e as ações dos governos para ampliar seus mercados.

Veja aqui o relatório completo com as observações iniciais da CIDH/OEA sobre a visita ao Brasil.