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Por Larissa Lacerda

O que muda no campo do planejamento urbano, e da habitação particularmente, se incluímos gênero como categoria analítica e política? O que queremos dizer quando denunciamos a opressão de gênero que produz e se reproduz no espaço urbano das cidades? E quais são as alternativas aos modelos hegemônicos de planejamento?

Estas são algumas questões que serão debatidas no dia 31, no Seminário “Cidade, gênero e interseccionalidades”, organizado pelo LabCidade FAUUSP em parceria com o Centro de Pesquisa e Formação do SESC-SP. O encontro tem como objetivo construir coletivamente uma reflexão em torno do planejamento urbano e da habitação, enquanto áreas de produção de conhecimento e campo de intervenção política, a partir do gênero como categoria teórica e política.

A epistemologia feminista tem contribuído com novos aportes teóricos em todos os campos do conhecimento, e mais recentemente na arquitetura e urbanismo no Brasil, afirmando a importância da articulação das teorias feministas e do espaço, levando em consideração aspectos e desafios contemporâneos para a superação das desigualdades de gênero. Apesar dos avanços em torno das demandas e interesses das mulheres experimentados nos últimos anos, os debates e políticas ainda se concentram na questão da representatividade e da titularidade preferencial para mulheres em projetos de moradia popular.

No Brasil, os arranjos familiares vêm se alterando e há um maior reconhecimento de sua pluralidade. As famílias monoparentais com filhas(os) vêm crescendo e, dentre elas, as que mais crescem são aquelas chefiadas por mulheres. Ainda, as famílias estão diminuindo, especialmente as sem filhas(os), e as mulheres morrem mais tardiamente que os homens, o que reforça a necessidade de produzir novas perspectivas de urbanização que considerem os novos arranjos familiares, como também as reconfigurações do mercado de trabalho e a próprias mobilizações e demandas de grupos de mulheres diversas na luta pelo direito à cidade.

Para debater essas e outras questões, contaremos com as exposições de Paula Santoro e Rossana Tavares e mediação de Diana Helene. Paula Santoro é uma das idealizadoras e organizadoras deste evento, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e coordenadora do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade – LabCidade, Paula vem empreendendo esforços na incorporação do enfoque de gênero nos estudos urbanos a partir de suas práticas de pesquisa e ensino. Como ressalta a autora em seus trabalhos recentes, o espaço urbano é o espaço por excelência para a reconstrução ou remodelagem das relações entre os sexos, o que significa dizer que o processo de urbanização é afetado pelas relações de gênero – que incidem sobre a decisão por migrar, sobre como se estrutura a moradia que se dá partir dos papéis familiares e organizações comunitárias – e seu planejamento pode ajudar na reorganização destas relações.

Em seu trabalhos e práticas políticas, Rossana Tavares, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFF e da UNIGRANRIO, dedica-se a discutir as possibilidades, assim como as rupturas possíveis na arquitetura e urbanismo a partir da teoria feminista. Rossana chama atenção para o fato de que para romper com o viés predominantemente heteronormativo e patriarcal no campo do urbanismo é preciso investir em construção de ferramentas metodológicas em pesquisa e extensão de forma articulada e engajada, estabelecendo também um processo de resistência sobre a suposta neutralidade científica, que tem justificado historicamente a indiferença à problemática de gênero. Nesse sentido, o conceito de espaços generificados de resistência proposto pelo trabalho de tese de Rossana Tavares (2015) se constitui como uma possibilidade de construção de ferramentas metodológicas, a partir da articulação do debate de movimentos feministas, a universidade e as práticas sociais das mulheres nas ruas.

Na mediação do encontro contaremos com a presença de Diana Helene, professora de Arquitetura e Urbanismo da UNIGRANRIO. Com uma carreira dedicada aos estudos de gênero dentro do campo do planejamento urbano, Diana parte de pesquisas com movimentos de moradia enquanto fios condutores por onde se cruzam a habitação, o espaço urbano e o planejamento sob a perspectiva dos papéis de gênero.

Seminário Cidade, Gênero e Interseccionalidades acontecerá em São Paulo entre 28 de janeiro e 1 de fevereiro de 2019, realizado pelo Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São PauloVeja o evento no Facebook.

 

Palestrantes que participarão do seminário no dia 31/01:

Paula Santoro
Arquiteta urbanista, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, coordena o projeto observaSP junto ao LabCidade, possui Auxílio à Pesquisa FAPESP. Trabalhou no Ministério Público do Estado de São Paulo, no Instituto Pólis e no Instituto Socioambiental – ISA.

 

 

Rossana Tavares
Professora da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense EAU/UFF e da UNIGRANRIO. Tem experiência nos temas de política urbana, urbanismo, habitação, saneamento ambiental e gênero. Atuou 8 anos na ONG FASE RJ, acumulando prática em educação e participação popular. Rossana foi assessora parlamentar da vereadora carioca Marielle Franco (presente!), brutalmente assassinada em maio deste ano.

 

Diana Helene
Professora de estudos urbanos e de habitação social no curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIGRANRIO. Trabalha com estudos de gênero desde 2010 quando iniciou seu doutorado, ganhador do prêmio Capes em planejamento urbano em 2016. Criou em 2013, o blog FeminismUrbana, sobre gênero e cidade. Prêmio Capes de melhor tese em 2016, com o tema de planejamento urbano e gênero.